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Desacelera, pai, vai dar tempo!

8 de novembro de 2018

“Não corre assim que você cai!”. Demorei muito para compreender que a frase tão ecoada na minha infância só pretendia me desacelerar… E reconheço que, em muitas vezes, repito o mesmo comportamento na vida adulta e, se perco o domínio, corro o risco de carregar as crianças na mesma velocidade da minha rotina.

Temos horário para tudo, todos os dias da semana, em compromissos sociais, familiares, profissionais… Assim, precisamos de agenda até para cuidar das nossas emoções, silenciar e estacionar os “desenfreios” deste turbilhão de coisas a fazer… Onde foi parar o tempo? Parece que ele não está a nosso favor! Será?

Basta olhar ao redor. No dia a dia, os relatos de cansaço, de estafa emocional e de sobrecargas são cada vez mais constantes. A democratização da informação, o alto fluxo de conteúdo e as influências geraram impacto na vida das famílias. Todo mundo quer fazer de tudo um pouco. Basta identificar qualquer grau de interesse no que o outro faz.

E neste cenário onde a grama do vizinho é mais verde, os olhos são direcionados para o lado errado enquanto o cultivo do próprio jardim fica à espera de mais zelo, dedicação e tempo. Será que, em algum momento, alguém disse que daria para abraçar o mundo? Ninguém dá conta de fazer tudo ao mesmo tempo e garantir qualidade nestas demandas. É necessário foco!

No campo familiar, nos deparamos com o “ter” sobrepondo o “ser” em muitas decisões e comportamentos egoístas diante de pequenos seres que clamam por tempo. Tudo pode esperar… Eles não! É nítido o quanto as crianças têm sido aceleradas desde o amanhecer, com os horários, tarefas escolares e todas as atividades extraclasses que são forçadas ou, muitas vezes, se dispõem a executar, pois há referências em seu ciclo de amizade.

São aulas de artes, esportes, música, dança, idiomas… Humanos-robôs, presos à rotina maluca, sobrecarregados de responsabilidades, ansiosos ou até mesmo depressivos por não darem conta de tudo… Pequenos já abastecidos de dificuldades em lidar com suas frustrações, com problemas de comportamento, pois cobram de si e do próximo a perfeição e a capacidade de ter tudo sob controle. Muitos à mercê da ausência de planejamento do tempo pelos pais.

Neste desconforto da infância, há crianças que se tornaram miniadultos e são cobradas como tal. Estão em conflito direto com a autoestima e com o estresse das atividades obrigatórias no momento em que vivem pleno desenvolvimento físico, afetivo/emocional e social. Humanos, desde que nascem, preparados para se tornarem bem-sucedidos profissionalmente e não para serem felizes. Isso sem contar a clausura a que são submetidos, forçados pela violência a qual tanto teme a sociedade de bem.

Pouco se pensa no tempo de ser criança, em se divertir, descansar, brincar, correr ou mesmo não fazer nada! Como resultado, fantasias e sonhos viraram metas. Está tudo acelerado demais e não fazer nada pode ser fazer tudo. Tirar o pé do acelerador da rotina, experimentar mais o toque, o carinho, o abraço, a conexão no olhar, o diálogo, o caminho… Não espere as férias familiares para tornar o dia a dia mais leve. Planeje, otimize e organize o tempo àqueles que realmente necessitam dele. Peça ajuda quando preciso. Não há nenhum sinal de fracasso nisso.

Afinal, não somos robôs e devemos reconhecer a responsabilidade sobre a própria vida e daqueles que ainda são dependentes. Devagar, sem pressa, não corra, pare, respire… Reclame menos! Tudo faz parte das nossas escolhas! O melhor da vida, que é ela mesma, o dinheiro não compra! Priorize. E, se pudesse dar a você um conselho que tenho dito diariamente a mim mesmo, seria: desacelera, vai dar tempo!

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